13 de dezembro de 2006

Shht!.. It's a secret!!..

Quando é segredo...


Through Glass
By Stone Sour



... parece mesmo uma eternidade!
E sente-se cada minuto que passa...
quando estamos do outro lado do vidro.


6 de dezembro de 2006

:(

Just... leave!

1 de dezembro de 2006

Pessoas descartáveis


Vendo bem, vivemos na era das coisas descartáveis. O 'use e deite fora' é a ordem do dia. Já ninguém tem paciência para investir nas coisas, já ninguém quer ter o trabalho que isso dá. É sempre mais fácil abrir a embalagem, retirar o produto, usar e deitar fora no final... E quando quisermos usá-lo de novo, volta-se a abrir nova embalagem.
Mas as pessoas não vêm embaladas, protegidas por polietileno... Os sentimentos não são conservados em vácuo... Como é possível que se tenham esquecido disso?! Desde quando nos voltamos todos de costas uns para os outros e nos esquecemos de cultivar os laços que nos uniam?! As relações precisam de alimento, precisam de carinho para crescer...
As pessoas não são descartáveis! E detesto sentir-me assim...


"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu o principezinho com delicadeza.
Mas ao voltar-se não viu ninguém.
- Estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu?, disse o principezinho. És bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs-lhe o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Ah! Perdão, disse o principezinho.
Mas depois de ter reflectido, acrescentou:
- Que significa "cativar"?
- Tu não deves ser daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro homens, disse o principezinho. Que significa "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?
- Não, disse o principezinho. Ando à procura de amigos. Que significa "cativar"?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. Serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... creio que ela me cativou.
- É possível, disse a raposa. Vê-se tudo à superfície da Terra...
- Oh! Não é na Terra, disse o principezinho.
A raposa mostrou-se muito intrigada:
- Noutro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse tal planeta?
- Não.
- Isso tem muito interesse! E galinhas?
- Não.
- A perfeição não existe, suspirou a raposa.Mas voltou à mesma ideia.
- Levo uma vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os homens são iguais. Por isso eu me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o Sol iluminasse a minha vida. Distinguirei, de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus hão-de atrair-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Vês lá adiante os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E é triste! Mas os teus cabelos são cor de ouro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso. Como o trigo é dourado, fará lembrar-me de ti. E hei-de amar o barulho do vento do trigo...
A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho:
- Cativa-me, por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer muitas coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os homens não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
- Como hei-de fazer?, disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...
No dia seguinte, o principezinho voltou.
- Era melhor teres voltado à mesma hora, disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, às três eu já começo a ser feliz. À medida que o tempo avançar, mais feliz me sentirei. Às quatro horas já começarei a agitar-me e a inquietar-me; descobrirei o preço da felicidade. Mas se vieres a uma hora qualquer, nunca posso saber a que horas hei-de vestir o meu coração... São precisos ritos.
- O que é um rito? disse o principezinho.
- É também qualquer coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias, uma hora diferente das outras horas. (...)
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando se aproximou a hora da partida:
- Ah! disse a raposa... Vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, não queria que te acontecesse mal; mas quiseste que eu te cativasse...
- É certo, disse a raposa.
- Mas vais chorar!, disse o principezinho
- É certo, disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ganho, sim, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois acrescentou:
- Vai ver outra vez as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Quando voltares para me dizeres adeus, faço-te presente de um segredo.
O principezinho foi ver outra vez as rosas.
- Vós não sois nada parecidas com a minha rosa; ainda não sois nada, disse-lhes ele. Ninguém vos cativou, nem vós cativaste ninguém. Sois como era a minha raposa. Não passava de uma raposa igual a cem mil raposas. mas fiz dela minha amiga e agora é única no mundo.
E as rosas ficaram bastante aborrecidas.
- Vós sois belas, mas vazias, disse-lhes mais. Ninguém vai morrer por vós. É certo que, quanto à minha rosa, qualquer vulgar transuente julgará que ela se vos assemelha. Mas, sozinha, ela vale mais do que vós todas juntas, porque foi ela que eu reguei. Porque foi ela que pus numa redoma. Porque foi ela que abriguei com um biombo. Porque foi por causa dela que matei as lagartas (excepto duas ou três para as borboletas). Porque foi ela e só ela que ouvi lamentar-se ou gabar-se, ou mesmo, por vezes, calar-se. Porque é a minha rosa.
E voltando para junto da raposa:
- Adeus, disse ele.
- Adeus, disse a raposa. Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se recordar.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se recordar.
- Os homens esqueceram esta verdade. Mas tu não deves esquecê-la. Ficas para sempre responsável por aquele que cativaste. És responsável pela tua rosa.
- Sou responsável pela minha rosa, repetiu o principezinho, a fim de se recordar."

"O Principezinho" de Antoine de Saint - Exupéry