3 de outubro de 2006

A magia do primeiro beijo



Porque o amor nem sempre tem limites e por vezes ultrapassa todos os obstáculos...

"Ela não sabia, por certo, que os seus olhos brilhavam, os seus lábios eram macios e vermelhos e o seu pequeno rosto se voltava para ele como uma flor aberta para o sol. O rapaz deu um passo na sua direcção e toda a tortura do seu desejo, tanto tempo reprimido, o invadiu de repente. Já não lhe via o rosto e ficou impossibilitado de conter os passos. Inclinou-se sobre ela, tentando opor-se àquele anseio incontido e sabendo que não iria resistir. Seria suficiente beijar-lhe os lábios, os lábios duma jovem, delicada e pura, naquele jardim maravilhoso, onde o próprio ar era impregnado de fragância e só se ouvia o ruído da cascata. Ela dissera-lhe que estava só. Suspirou e, passando rápidamente os braços ao redor de Josui, com imensa ternura, estreitou-a lentamente contra si. Viu o seu rosto junto ao dele, a proximidade dos seus lábios. Baixou a cabeça e sobre eles colocou os seus, sorvendo-lhe a respiração arquejante, libertando uma das mãos para segurar-lhe a cabeça enquanto ela procurava desviá-la para um e outro lado. De repente cessou de lutar, e ficou imóvel.
Era esse o longo momento com que sonhara a noite inteira, o momento de que nada sabia e que nem ao menos podia imaginar. Josui quase desfaleceu nos seus braços e ele, então, levantou o rosto continuando, porém, a segurá-la.
Ela não o olhou. Não tentou desprender-se, mas virou a cabeça e encostou a face no seu ombro para esconder o rosto. O rapaz baixou a cabeça sobre os seus cabelos, tão negros, tão macios.
- Tinha de ser - murmurou.
Ela não podia falar. Percebendo isso, ele ergueu-lhe o rosto novamente, segurando-a pelo queixo redondo e macio.
- Sabia que tinha de ser? - perguntou.
- Não sei - murmurou ela. - Nunca fiz isto.
Ouvi-la confessar, assim, a sua inocência, encheu-o outra vez de ternura.
- Oh, minha querida! - disse baixinho, inclinando a cabeça.
- Não - implorou a jovem - Chega... para a primeira vez. Que farei? Preciso pensar, para ver o que significa.
- Significa que a amo.
- Nem sequer me conhece!
- Um homem não precisa conhecer uma mulher para amá-la. Amando-a aprende a conhecê-la.
- Mas estamos no Japão!
- Você e eu... um homem e uma mulher."

in A Flor Oculta de Pearl Buck

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