12 de novembro de 2006

Uma noite de Inverno



A neve caía lá fora, formando um manto branco, cobrindo todas as outras cores. Viam-se as pegadas que as pessoas apressadas deixavam ao correr para casa. Estava frio, e nem os casacos, cachecóis e gorros eram suficientes para se manterem aconchegadas... Era urgente o conforto da casa, o acolhimento da fogueira. Mas não para eles.
A eles bastava-lhes o chocolate quente que tomavam no Café e o calor das gargalhadas que partilhavam. Lá fora viam o corrupio do fim do dia, mas deixaram-se ficar sentados, observando o manto branco ficar cada vez mais desfeito, mais imperfeito. Todavia, parecia-lhes o dia mais perfeito de sempre! Na imperfeição das pegadas e marcas dos pneus dos carros, compreenderam como era o caminho de regresso ao lar, às pessoas significativas, ao afecto e carinho. Porque é principalmente nos dias frios que procuramos os abraços e os beijos que despertam a chama interior que nos aquece. Mas para eles não.
Ainda não era altura de se separarem para voltarem para casa. Ainda não era o momento de terminarem o encontro. Não estavam abraçados, não se tinham beijado, mas estavam mais confortáveis do que nunca na companhia um do outro.
O Café foi ficando vazio, as mesas ficaram despidas e eles nem tinham dado conta do tempo a passar! Era como se nada mais existisse para além deles os dois. E, subitamente, aperceberam-se como aquela pequena mesa parecia separá-los como se fosse um oceano, como eram tão importantes um para o outro. Mas nenhum deles sabia!
Nunca tinham trocado carícias, nem juras de amor, nem promessas. Não havia certezas do papel que desempenhavam na vida um do outro, mas ambos esperavam que fosse um papel primordial.
Chegara a altura de saírem, o Café ia fechar.
Ao abrir a porta foram cumprimentados pela corrente de ar frio. Apertaram os casacos e saíram. Ela primeiro, ele atrás dela. No fim das escadas ela voltou-se para ele. Enroscava as mãos uma na outra e tinha os olhos mais brilhantes do que nunca.
«Como és bonita!», pensou ele, mas sem coragem para lhe dizer.
«Como adoro o teu sorriso!», pensou ela, mas não lho conseguiu dizer.
– Bem, separamo-nos aqui, não é? Falamos amanhã?, perguntou ele, ansioso pela resposta.
– Sim... Claro, telefona-me amanhã, está bem?, pediu ela, já com saudades da sua presença.
Ele sorriu. Ela sorriu também. Ele aproximou-se dela para se despedir. Ela também.
Ele colocou a mão dele na cintura dela. Ela colocou a mão dela no pescoço dele. E, imprevisivelmente, as suas bocas encontraram-se pelo caminho. E eles beijaram-se. Ternamente. Como se aquele fosse o beijo por que tanto tempo tinham esperado e que tanto tempo demorou a acontecer. Mas era mesmo esse beijo! Aquele que sempre quiseram trocar e nunca o tinham feito por medo. Medo da reacção do outro, da resposta que os esperava. Agora que acontecera não restavam dúvidas! Era paixão o que existia entre eles... e ambos estavam certos disso!
Ficaram abraçados. Já não tinham frio. Era como se o Sol brilhasse mesmo por cima deles. Nos braços um do outro sentiam-se protegidos, tal como nos sentimos nos dias quentes de Verão.
– Até amanhã, então!, disse ele, olhando-a nos olhos.
– Até amanhã!, respondeu ela com o seu sorriso de felicidade.
– Adoro-te, sabias?, perguntou ele. Ela acenou com a cabeça. Ele beijou-a novamente.
Separaram-se, mas as suas mãos mantinham-se juntas. À medida que os passos os afastavam também as mãos se começaram a distanciar. Antes de seguirem direcções opostas, os seus olhares cruzaram-se uma última vez naquela noite.
Ambos levavam a felicidade nos lábios, descrita num sorriso e numa gargalhada contida. E assim regressaram a casa como os restantes, felizes apesar do frio de uma noite de Inverno.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!!!!! Fico à espera do livro! E Quero um autógrafo! Beijinhos! Saúde para ti e para os teus.

Nokitas disse...

Hmmm.. N sei se vou escrever um livro, mas se o fizer está prometido um autógrafo logo a seguir a uma dedicatória!!;)